08 fevereiro 2016

Cronologia rápida e aleatória de um país em surto

Pintura de Christoffer Wilhelm Eckersberg*

A construção da identidade de um país é óbvio, um longo processo que aglomera e separa aspectos positivos, negativos e neutros. No resumo e metafórico, um permanente cachorro caindo do caminhão de mudança

Não é o objetivo aqui desfiar um longo tratado, nem avaliar o processo histórico, nem acusar ou defender o que quer que seja, mas convidar para uma reflexão pessoal.

O mundo vem surtando há quinze anos, os saltos tecnológicos ligeiríssimos trouxeram uma geração que "smartphona", "whatsapeia" e outros tantos nomes que aparecem das mais inúmeras formas. Eles escrevem com o dedão, criam neologismos e definitivamente pensam mais rápido, muito mais rápido.

Essa geração não significa o novo, significa outra coisa. Ela é outra coisa e só o aspecto humano é que se parece com o que já estava por aqui.

Alguém que já estava aqui antes desse período, pode quando muito entender o movimento, mas não consegue participar dele, vai morrer nas beiradas. O fenômeno vai muito além da compreensão da maioria de idosos a partir dos 25 anos. Nada pode ser definitivo.

Pano rápido


Aqui vai um recorte no Brasil de 1960, efervescente, de capital recém inaugurada, de luzes no fim do túnel, de presidente disposto a varrer a bandalheira (precisa estudar história para entender o cenário anterior). E oito meses depois a vassoura quebra, o vice assume um caldeirão social fervente, a senzala (no sentido do livro de Gilberto Freire) vai para a rua, levanta bandeira, canta palavras de ordem, pede reforma agrária. Booom.

Uma coluna de tanques acabou com a festa, quem não voltou para casa, levou borrachada (no mais amplo sentido), quem insistiu, bem, só estudando a história. Um período triste, não o primeiro, não todo silêncio, mas de murmúrios vigiados.

Pensei aqui de relance, D. Pedro II de chapéu e casaca, na madrugada chuvosa, embarcando numa lancha da Marinha, de lá para o "Parnaíba" e finalmente ao "Alagoas" junto com a Família Real para o degredo permanente.

Na minha visão, erramos feio na primeira transição. A República nasceu "coxa", pesada, pelas mãos dos ilustres senhores do dinheiro de então. Desde aí e até hoje, vigora a mesma lei, a de que só as elites decidem os destinos do país, metafórica ou não.

Nos 21 anos de Regime Militar, mais do que o silêncio dos que questionavam e discutiam o país, foi a falta de continuidade na construção de lideranças, que geração após geração modificam o caráter de uma nação. Só tinhamos um lado.

E esse estigma permanece pairando sobre nossas cabeças. Nossa condução da vida nacional ainda vigora de forma piramidal de cima para baixo, embora de 1985 para cá possamos espernear relativamente mais. Ainda sem efeito. O segundo capítulo da novela, teve um intervalo de 21 anos. Só entende quem viveu para ver.

As intrigas palacianas

Teria mesmo que deitar cabeça, coração e olhos na história, para esclarecer a mim mesmo que paralelo existe entre Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Dilma Rousseff, Michel Temer, o STF, o Congresso Nacional, os partidos e os interesses da elite que transitou entre a Monarquia e a República. O papel de Deodoro, Floriano, Benjamin Constant, Emilio Mallet, D. Pedro II, Princesa Isabel. E outros tantos, além da própria índole do brasileiro comum.

Minhas elocubrações apontam que o "nó górdio" acontece entre o Baile da Ilha Fiscal e o Alagoas singrando o Atlântico com a Família Real à bordo, que só retornariam depois de mortos, numa espécie de pedido de reconciliação e remorso.

Monarca deposto, entreolharam-se os republicanos, achando que era o trono vago a solução de tudo e que bastava alguém ocupar o assento e tudo seria melhor.

Cena que se repetiu inúmeras vezes nos sucessivos abalos dos governos posteriores, de Deodoro a Vargas, de Juscelino a Goulart, de Castello Branco a Figueiredo, de Tancredo a Dilma Rousseff.

Por enquanto uma história que só aconteceu no ambiente dos Palácios.

A síndrome da coroa que a exemplo da espada mitológica do Rei Arthur, só obedecia as ordens de seu verdadeiro dono. Uma coisa também parecida com o Martelo de Thor, que Loki busca arduamente possuir. Opsss.........

Loki, metafórico, como não pensei nisso antes? Patrono do caos e inventor da rede de pesca. Faz sentido. Será Loki o patrono das redes sociais?

É o espírito de Loki que governa nosso momento presente, era Loki na década de 1960 que chacoalhava o provincianismo que há muito tempo vigorava. Nossos períodos de "chumbo" representam Loki prisioneiro aos pés da serpente que pingava veneno no seu rosto. Agora Loki está livre novamente, sabe usar o smartphone, sabe que o mundo dos mortais está conectado

Considerado um símbolo da maldade e traição, Loki e suas artimanhas causam problemas de curto prazo aos deuses que acabam como grandes beneficiários de suas peripécias.

Quem sabe dessa vez, Loki acabe por beneficiar também os mortais?

Cai o pano.

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*Baldr está caído, mortalmente atingido pela flecha atirada por Höd, seu irmão cego que está em pé à esquerda, próximo às armas. Odin está sentado no centro do clã de deuses e Thor à sua esquerda. Yggadrasil e as Nornas podem ser avistados ao fundo e Loki (a mão e os olhos que "ajudaram" Höd a mirar a flecha) na extrema esquerda da imagem, tenta disfarçar seu sorriso

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